"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 21 de março de 2013

Era uma vez uma pequena puta...



Ana mastiga seu chiclete sem gosto 50 vezes, cospe-o para fora da boca, estica-o entre os dedos e o coloca de novo na boca. Mais 50 vezes. Faz frio mas ela não parece notar, com seu shorts curtíssimo e suas sandálias surradas. Cruza os braços impaciente, olha para o céu se perguntando que horas seriam. Um carro para, trata-se de um velho qualquer, e sem dizer uma palavra ela adentra no veículo, discretamente grudando seu chiclete na maçaneta do mesmo. As horas passam. A porta onde a menina estava encostada se abre e quando escurece as luzes se acendem, um homem sai para a rua, acende um cigarro. O mesmo carro aparece de novo e Ana é quase que jogada para fora, cambaleante ela acena para o velho com um sorriso sarcástico. Está bêbada. O homem que fumava joga o cigarro longe e estende a mão para a menina, mão está onde ela deposita algumas notas surradas. Ele acena com a cabeça permitindo que ela entre pela porta. Trata-se de uma casa muito antiga, grande, dois andares. Ana encontra muitas garotas pelo caminho mas não cumprimenta quase ninguém. Dia devagar, só dois clientes. Ela não sabia se agradecia a Deus por isso ou se o maldizia. Ana subiu para o segundo andar da casa e caminhou em direção ao último quarto. O único que tinha regras de permanecer sempre fechado. Abriu a porta, quebrando, como sempre, a regra.

Ana sorriu para a menininha que se encontrava lá dentro. Se chamava Bela e havia custado muito caro para seu cafetão. Fora comprada quando ainda tinha 4 anos, agora tinha 8. Estava sendo treinada para ser a melhor puta daquele lugar e com certeza, a mais bonita também. Já fazia pequenos serviços para clientes muito especiais, mas ainda era virgem. Sua virgindade seria vendida quando completasse 12 anos. Bela correu na direção de Ana assim que a viu. E Ana tentou ignorar o som das correntes que prendiam os pés da pequena, seu dono tinha medo de uma fuga ou um furto, nunca se sabe. Ana a abraçou com força. Bela era uma menina estranha, temperamental, dissimulada e maliciosa... Mas Ana já a tinha visto encolhida contra o canto chorando como toda a criança assustada, ou se balançando no mesmo lugar, batendo a cabeça contra a parede de concreto (o que lhe rendia broncas absurdas, afinal ela precisava estar perfeita para seus clientes). Ana gostava dela. E Bela a idolatrava, mesmo Ana sendo só uma puta absolutamente comum de só 13 anos de idade.

As menina se soltaram e Bela continuava sorrindo. A beleza dela chegava a doer. Ana passou a mão por seus cabelos escuros. Costumava contar histórias para Bela, histórias de homens gentis, bonitos e ricos, que tentavam conquistá-la pelas ruas, mas ela não podia ceder, pois estava esperando seu príncipe encantado. Um menino que ela tinha de apaixonado na época em que ela ainda frequentava a escola. Você nunca vai saber o que é escola alias, acrescentava ela. Você vai ser uma grande puta, sabe. Tão boa quanto eu, talvez até melhor!

- O que significa "puta"?

Ana parou de falar por um instante.

- Significa alguém que teve a vida como professor.

Bela fez que sim com a cabeça, mas Ana sabia que ela não tinha entendido. Bela não entendia nada, era só uma criança. Cobriu os olhos com as mãos. Ela chupava paus e dava a bunda melhor do que muita mulher adulta por ai. Só 8 anos. Só 8 anos. Olhou para a pequena amiga. Tão bonita... Esse rosto, esse corpinho magro vale tanto que nenhuma das duas podia imaginar. Se não fosse sua beleza, essa beleza absurda, ela não teria sido raptada e vendida como um animal. Ana não era bonita, ela sabia disso, ela era mercadoria barata, de baixa qualidade, vinda de família pobre. Bela não, Bela era uma jóia rara, se fosse jogada na rua era capaz de na hora a televisão cair em cima e pronto, achariam seus pais, obviamente ricos. E seu futuro seria devolvido, ela teria uma vida, uma chance. Ela ainda era virgem, não estava tudo perdido. Era preciso... Só era preciso destruir o que seu cafetão mais apreciava nela e então, para ele, ela deixaria de ter valor e ter uma criança dessa ali seria um risco muito alto para pouco retorno financeiro. Só era preciso... Ana pegou um pedregulho quase do tamanho da sua mão no chão e com os olhos vazios se virou para Bela. Era tão fácil dominá-la. Bateu com o pedregulho na cabeça da menininha até que seu rosto tivesse se tornado irreconhecível. Não ouvia os gritos. Seus ouvidos estavam cheios de uma música maravilhosa. Ela deixou a pedra manchada de sangue de lado e segurou os rosto da amiga. Você está salva agora, sussurrou. E a abraçou. Estava tudo bem, ela sorriu e chorou, ninguém nunca mais ia machucá-la.

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