"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 28 de abril de 2013

Não sou um super herói



O vazio me consome. Tem algo de muito errado comigo... Eu sinto, eu sei. Eu não estou bem, não estou nada bem. Não consigo me sentir aqui, não consigo, é como se eu já estivesse morta. Quis tanto me matar ontem, tanto... Eu nunca cheguei tão perto. As lágrimas escorriam, meu monstro sorria de dentro da escuridão do meu ser. Ele estava no controle, ele poderia ter acabado com tudo, tão facilmente. Meu corpo tremia e eu apertava minha cabeça com as mãos, com medo de perdê-la a qualquer momento. Uma dor aguda em meu braço, cortes novos que insistem em continuar sangrando, o vermelho escandaloso. Pensamentos horríveis dançavam ao meu redor. Queria implorar, implorar para isso parar, mas implorar para quem? Tentava olhar a minha volta, qualquer coisa que pudesse me salvar, qualquer coisa em que eu pudesse me agarrar. Mas nada, a única coisa que passava pela minha cabeça eram jeitos que eu poderia me matar. Eu estou cansada, profundamente cansada de visitar o inferno diariamente. Eu quero acreditar que as coisas podem melhorar, eu realmente quero... Eu quero ter esperança, mas não é isso que a realidade me diz. A verdade é que já faz mais de três anos que eu venho lutado contra tudo o que eu sou, com todas as minhas forças... E as "melhoras" nunca duram tempo suficiente, nunca compensam as pioras... Eu estou cansada de lutar e receber tão pouco de volta.

Eu venho me esforçando tanto... Mas a Sabrina não responde. Eu olho para ela quando paro na frente de um espelho e seus olhos são tão vazios às vezes, que eu me pergunto se ela ainda existe. Eu ainda estou aqui? Eu estou vivendo? Isso não me parece ser uma vida... Ninguém me disse que a vida seria assim, ninguém me preparou para isso. Essa dor, esse vazio, essa incerteza, esses pensamentos terríveis, esse monstro... Há tanta coisa errada. Eu dou um tapa na cara do meu reflexo e ele me devolve um sorriso distante. Ela não vai melhorar, eu sei que não vai, é óbvio que não vai. Então por que continuo lutando? Essa pergunta me vem constantemente em mente e quase nunca consigo respondê-la. Não há motivos fortes o suficiente... Mesmo quando penso em meus amigos, imagino que eles estariam muito melhor sem mim, ou então que não faria a menor diferença. É... às coisas estão perdendo o sentido gradativamente, pouco a pouco eu estou perdendo meu lado saudável, meu lado normal, meu lado feliz, meu lado alegre e despreocupado, pouco a pouco... Está cada vez mais difícil conversar pessoalmente com alguém, principalmente com estranhos, está mais difícil controlar os tremores, o pânico, as crises, os pensamentos paranoicos, as lágrimas, os cortes. Está cada vez mais difícil acompanhar a faculdade, mesmo eu fazendo só metade da carga horária dos outros alunos... Minha psicóloga está sempre me parabenizando pelas minhas pequenas vitórias, como conseguir conversar com alguém, controlar meus impulsos autodestrutivos, tentar não fugir do mundo inteiro... Mas são vitórias tão pequenas aos meus olhos, tão patéticas... Todo mundo faz o que eu faço com tanto esforço, com a maior naturalidade do mundo.

Eu quero essa naturalidade, essa facilidade para encarar a vida, essa leveza. Eu quero isso... Existir, para mim, me dói terrivelmente, me pesa, me incomoda. A única coisa que eu quero é ter um lugar no mundo assim como todo mundo. Eu quero caminhar sozinha, quero poder ser eu, quero poder não ter medo de mim mesma... Mas não existe essas alternativas para mim. Quando penso que serei escrava da minha doença o resto da minha vida, eu me pergunto seriamente se é essa a vida que eu quero para mim, e não é. Me desculpe, eu não sou uma daquelas pessoas doentes que encontram força e esperança em sua doença e se tornam fonte de inspiração para meros mortais. Isso é uma besteira, uma mentira. Não há absolutamente nada de heroico em doença alguma, só há dor e sofrimento, que não ensinam absolutamente nada, a não ser a chorar, se desesperar e perder qualquer medo da morte, chegando ao ponto de desejá-la muito mais que a vida. Só.

sábado, 27 de abril de 2013

Despencando



Eu falhei. Sinto vontade de enterrar minha cabeça no travesseiro e me recusar a ver o mundo. As pessoas são boas demais comigo. É tão engraçado... Houve um tempo em que não importava aonde eu fosse, a maldade e a rejeição sempre me seguiam, por tanto tempo e com tanta intensidade que até hoje eu me sinto terrivelmente desencaixada e não aceita em qualquer lugar em que eu coloco meus pés. Sempre olho um pouco desconfiada para as pessoas a minha volta, estou sempre esperando aquele tipo específico de risada, de deboche, um dedo apontado e críticas pontiagudas. Mas não... algo parece ter acontecido nos últimos tempos, de repente as pessoas pararam de rir, de repente elas estão me ouvindo, elas realmente estão me ouvindo. É quase como se eu fosse alguém, como se eu fizesse alguma diferença. Isso me trás uma alegria diferente, uma coisa que eu nunca tinha experimentado... É como se, talvez, existisse um lugar para mim no mundo, eu é que nasci no lugar errado, na hora errada, perto de pessoas erradas e por isso que demorei tanto tempo para me encontrar. É, talvez não seja sempre mentira quando as pessoas falam que as coisas melhoram. Eu deveria dar mais ouvido a elas. Acho que não dar muito atenção para o mundo ao meu redor é uma espécie de defesa minha, como quando as crianças mais velhas me perseguiam e eu ficava repetindo para mim mesma que eu era invisível, que se eu não olhasse para eles, eles não iam me olhar e recomeçar a perseguição. Óbvio que isso nunca funcionou, mas de tanto repetir isso para mim mesma, se tornou um hábito. Se eu fingir que certa pessoa ou situação não existe, nunca existiu, se eu fingir por bastante tempo e com bastante força, então isso nunca terá existido. Às vezes a realidade se molda em meus dedos.

Eu fico feliz dessa época ter passado, mas lamento terrivelmente o quanto eu ainda carrego disso comigo. É claro que eu não coloco toda a culpa de eu ser quem eu sou nisso, mas é fácil ligar alguns comportamentos e até sintomas da minha doença que podem ter surgido naquela época. Bom, o que aconteceu, aconteceu... E eu deveria parar de revirar o passado, não vou encontrar nada que me possa ser bom ou útil lá. Eu estava tentando me concentrar no agora, hoje especificamente... Foi um bom dia, tinha tudo para ser um ótimo dia e no entanto eu sempre acabo estragando tudo. O carinho das pessoas, a preocupação, a atenção... Tudo isso aquece meu peito enquanto eu estou olhando para elas, mas no momento em que eu me vejo sozinha, o mundo desaba. Falta-me o chão. Um buraco negro se abre em meu peito e eu esqueço totalmente todo o amor e atenção recebido anteriormente. Eu me sinto uma sanguessuga nojenta, consumindo a energia e alegria das pessoas a minha volta. Eu nunca estou saciada, a carência é constante, o vazio, infinito. Isso me deprime, me envergonha, faz com que eu tenha vontade de pedir desculpa para qualquer pessoa que seja minimamente legal comigo. Mas eu não peço... Minha psicóloga me ensinou a não pedir desculpa para as pessoas por nada, então eu não peço, mas gostaria de agradecê-las, de verdade, por tentarem, por serem tão boas e por me surpreenderem todos os dias. Talvez um dia, se o mundo continuar me trazendo pessoas tão boas para a minha vida, eu acabe conseguindo acreditar que toda essa luta valha a pena, que realmente valha a pena.

Por enquanto... Por enquanto eu estou no fundo do poço novamente. Mas tudo bem, olho a minha volta e tento até sorrir. Não há ninguém por perto, mas eu tento. Meu braço dói, meus corpo está tão cansado que meus olhos se fecham sem querer. Afundar a cabeça no travesseiro. Pelo menos por hoje, chega de lutar.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fuga



Os minutos passam lentamente e a cada vez que um deles se vai, maior é meu desespero para sair correndo de tudo e todos. Eu quero fugir, quero muito fugir. Quero que me deixem em paz em minha cama para sempre, quero abrir a porta do meu universo fictício e nunca mais voltar. Eu quero me envolver em meus próprios braços e sentir que eu estou ali, quero acabar com todos esses medos e manias... Quero ficar bem. Mas eu nunca estou realmente bem. É por isso que as pessoas vão embora, é por isso que eu tenho tanto medo de perde-las. Não estou me sentindo bem, essa dor toda só me serve para revirar meu estomago e apunhalar meu coração. Sinto falta de me sentir bem, muita falta... Estou em um estado um pouco estranho, tem uma expectativa no ar, parece que algo está para acontecer, eu posso sentir. Eu só preciso do último empurrão. O último impulso. Meus braços formigam e tudo parece tão desconectado... Andei acompanhando um grupo de Borderlines. No começo não gostei, não me via ali, não queria me ver ali, não queria me identificar... Mas agora, com o tempo, as pessoas falam e eu as entendo, elas me entendem. Eu gostaria de nunca precisar fazer parte de nenhum grupo desse tipo, mas é bom ouvir o seu sofrimento na boca de outra pessoa. Eu não estou sozinha. Eu não estou sozinha. Por isso vale a pena... Apesar de doer ouvir histórias de pessoas que se dizem Borders mas não precisam de medicação e estão estável sem ela. Minha realidade é muito diferente dessa. Eu duvido que um dia eu vá conseguir sobreviver sem medicamentos e terapia constante.

Estou pensando muito em me cortar, e pensar nisso me deixa agitada. Eu gostaria de melhorar, de continuar fingindo que eu estou bem e tudo o mais, mas o fato é que eu não estou. E não importa muito o que o mundo te diz, você tem o direito de sofrer... Às vezes acho que eu não tenho esse direito, às vezes eu só acho que as pessoas exigem de mais da minha pessoa, ou que eu mesma exija de mais de mim mesma. Não é feio chorar, não é feio ficar deprimida, e no entanto eu continuo pensando nessas coisas como se fossem um crime. E então eu guardo minha dor, até que não exista mais espaço onde guardar tanta coisa e, então, eu explodo. Eu preciso aprender a me expressar de um jeito menos destrutivo, eu preciso aprender a não guardar absolutamente nada. Eu preciso aprender a lidar com as coisas com me leveza. Eu preciso fazer e aprender tanta coisa que se eu fosse falar ficaria aqui até amanhã. Às vezes também penso que talvez eu só devesse ser eu, sem regras, sem remédios, sem terapia, se nada. Lutar diariamente contra tanta coisa que eu sou e sinto é cansativo demais. Eu realmente penso muito em desistir do tratamento, em deixar que meu monstro me consuma e que eu sangre até morrer. É, talvez eu faça isso. Talvez... Eu realmente, não estou muito bem. Sinto como se eu tivesse me abandonado, desistido de vez, me largado na estrada por estar cansada de tantas lágrimas. Eu não me importo com essa garota jogada na estrada. Não tenho nada a ver com ela.

A tristeza contagia. Por isso eu me abandonei. Melhor manter distância. Estou perdida no mundo e tenho frio, fui abandonada pela única pessoa que deveria estar sempre comigo, eu mesma. Estou cansada de caminhar em círculos e nunca chegar a lugar nenhum, ninguém aguenta uma tortura por muito tempo, somos todos humanos e todos queremos ficar o mais longe possível de qualquer sofrimento. Temos medo do sofrimento, alheio principalmente, não sabemos o que fazer frente a ele, temos medo de acabarmos sentindo a mesma coisa. A tristeza é contagiante. Não sei onde estou, mas não há nenhuma alma por perto, há muitas coisas ruins a minha volta para permitir a aproximação de qualquer pessoa.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Me perdoem por me sentir assim



Meu peito dói... Estava lembrando do retiro católico que eu fui no meu terceiro colegial. A gente fez uma dinâmica lá que mexeu muito comigo, chorei tanto que tive até que sair da igreja. Eu quero chorar assim agora, acho que eu estou precisando colocar tanta coisa para fora. Tanta coisa. Mas eu não sei como, o choro está embolado em minha garganta mas as lágrimas não caem. Tenho medo dessa dor toda... Tenho medo do momento em que eu não vou mais aguentar segurar tudo isso. Eu só queria poder ficar sozinha... O tempo que eu precisar, o tempo que for necessário. Me pergunto quando isso vai acabar. Quando eu vou conhecer o significado de palavras como paz e felicidade, quando vai chegar a minha vez. Fico assistindo a vida de todo mundo dar certo e eu não consigo parar de pensar. Quando vai ser a minha vez? É simplesmente tão injusto. Eu me esforço, tanto. Juro que me esforço. Por que eu tenho que ser desse jeito? Dizem que deus não nos dá uma cruz mais pesada do que podemos carregar, mas eu acho que ele cometeu um erro comigo. Essa cruz é pesada demais para mim. Eu não sou forte o bastante, de verdade, eu não sou. Estou tão cansada de fingir algo que eu não sou, de mentir todo o santo dia, para mim, para o mundo inteiro... Eu não sou essa Sabrina que vocês vêm, eu não sou. Isso é só uma imagem criada com todo o cuidado do mundo, uma máscara para que vocês possam gostar de mim, só isso.

A Sabrina de verdade e o monstro têm muito em comum, o suficiente para eu me odiar de toda a minha alma. Por que eu tenho que ser assim? Se eu pudesse... Eu realmente gostaria de nunca ter nascido. Sinto que só nasci para dar errado, ninguém merece alguém como eu por perto... Eu costumava rezar para deus me matar mas parece que nem ele está muito interessado em me ouvir. Eu só não consigo mais enxergar motivo nenhum para viver. Respirar dói, dói demais. Você sabe como é sentir isso o tempo todo? Eu queria pedir ajuda para alguém, eu queria pedir para alguém fazer isso parar, mas eu sei que ninguém pode fazer isso por mim. Eu estou sozinha nessa luta por mim mesma... Mas eu não acho que eu seja uma coisa pela qual se valha a pena lutar por. Eu não quero mais existir, não assim. Me desculpem, me desculpem por ser assim, por ser fraca, por não aguentar coisa alguma, por querer tanto me matar. Eu tento, tento tanto aguentar, tento tanto ver o horizonte afrente, eu tento... E eu falho tanto, tantas vezes. Vocês podem me entender? Alguém pode me entender? Minhas escolhas estão se apagando uma a uma e só um caminho parece certo para mim. Quando olho para meus braços a única coisa que eu consigo pensar é aonde eu vou me cortar da próxima vez.

Eu estou tentando fugir, de mim mesma, desse inferno todo, mas a cada esquina há uma face terrível de mim mesma, há um golpe no peito, uma lembrança monstruosa, sentimentos descontrolados. Estou só adiando, enquanto eu posso, o fim da história. Muitas vezes é assim que eu vejo a minha vida.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Desconectada



Olho a minha volta como se o mundo fosse uma grande peça de teatro e eu estivesse em um ótimo camarim. Meu personagem sorri lá embaixo e eu sorrio com ele. Eu não sei, mas tem algo de engraçado no ar. Consegue sentir? A peça que eu vejo é uma tragédia, mas enquanto o resto das pessoas choram, eu tenho vontade de dar a maior gargalhada do mundo. Tem algo de errado, comigo, com meu personagem, mas eu não ligo... Por que tudo o que importa, são as sensações. Fecho os olhos e respiro fundo, armada com meu sorriso nos lábios. As coisas poderiam continuar assim. Não me sinto parte de nada, mas estou em todos os lugares. Posso voar se quiser, posso esquecer meu personagem naquela peça, posso fazer qualquer coisa. Eu não sei mas tudo parece tão divertido de repente. Sinto que se as coisas continuarem assim eu vou desaparecer para sempre, mas tudo bem... Não ligo de desaparecer, não ligo de abandonar minha peça, não agora, não assim. Eu só quero que essa sensação engraçada continue. Meus pensamentos voam para as terras mais escuras e assustadoras e mesmo assim tudo o que eu faço é sorrir comigo mesma. Não entendo porque estou assim, não entendo nada do que está acontecendo mas pela primeira vez na vida... Meu coração está batendo longe de mais para eu me importar.

Continuo olhando o mundo a minha volta, mas a cada minuto ele me interessa menos ainda. Onde estou? O que estou fazendo? Para onde estou indo? Tanto faz. Me pergunto se é assim que as pessoas se sentem quando estão drogadas. Se for, eu consigo entendê-las muito bem, porque continuam se drogando e tudo o mais. Eu estou feliz. A quanto tempo eu não me sentia bem? Assim, sem motivo, só... Bem. Bem de um jeito estranho, sim, mas bem. Cada piscada é uma eternidade, as pessoas passam por mim como se fossem fantasmas e eu quero comprimenta-las todas, rir com elas, rir delas, o tempo parou em algum momento e eu não percebi. Em minha cabeça uma confusão de tragédias, pensamentos ruins e mais pensamentos ruins que não me atingem. É como se meu cérebro estivesse lutando para me trazer de volta a realidade. Minha mente voa longe de mais, tarde de mais. Não sou... coisa alguma. A ponta de meus dedos formiga e eu estou tão anestesiada que acho que se alguém me desse um soco eu não sentiria absolutamente nada. Eu vou desaparecer. E vai ficar tudo bem, ninguém vai lembrar de mim, ninguém vai chorar por mim, eu nunca vou dar mais trabalho nenhum, nunca vou fazer mais mal para pessoa alguma, eu vou só desaparecer. Como se nunca tivesse existido.

Eu não existo. Nunca existi. A peça é uma mentira, a vida é uma mentira. Vou acordar amanhã e rir o mais alto que puder dessa grande piada. Por que estou aqui afinal? Olho para cima na esperança de me encontrar, mas a única coisa que eu posso vez é aquela garota no chão, sorrindo não sei para quem ou para que, em uma fila qualquer, entre pessoas quaisquer. O mundo continua sempre o mesmo mas minha mente já foi para o espaço e voltou sem que ninguém percebesse. Será que o mundo continua sempre o mesmo? As pessoas agem como se a resposta fosse sim, mas não para mim... Não o meu mundo. Olho para minhas mãos, minhas. É, estou de volta.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Um lugar que eu podia chamar de lar



Eu tinha uma vida em outro lugar. Era diferente, era livre, era feliz... Era um lugar onde eu me sentia em casa, como eu nunca me senti em lugar algum. Eu podia ser só eu, eu podia rir, eu podia ir e vir, eu podia só esquecer a minha outra vida e viver essa, tão mais bonita, tão mais confortável e alegre. É, eu costumava ter essa vida diferente de vez em quando... E era uma das coisas que tornavam a vida mais suportável. E sabe, o que me mata é você ter tirado isso de mim, além de ter ido embora. Nós construímos uma vida juntas e para mim soa um pouco injusto de mais só você ficar com a parte boa dela. Isso realmente me mata. Eu não acredito que depois de dois anos e meio, eu estou saindo de mãos vazias e você com os bolsos lotados. Por que? Isso é tão injusto. Minha vida está uma bagunça, eu nem me lembro mais como é viver sozinha. Até porque quando eu estava sozinha eu passava tempo de mais planejando como eu iria me matar ao invés de aprender a seguir em frente sem ninguém por perto. E quando você surgiu, eu não me preocupei mais em aprender, entende? Por que você era tudo para mim, e enquanto você estivesse comigo, tudo estaria tão perfeito que chega a ser ridículo. Eu não precisava... Pensar nas coisas ruins e aprender a lidar com elas sozinha, eu não precisava depender só de mim mesma para sobreviver. Você era meu Sol.

Eu tinha... Essa válvula de escape. Essa minha possibilidade de fuga, de ir para um lugar onde eu podia me encontrar. Mas você levou tudo embora. E eu não tenho mais lugar algum. Não há mais estrelas e luzes para observarmos da janela, não há mais horas na cozinha preparando coisas gostosas, não há mais noites sem fim. Seu corpo não me esquenta mais e eu não escuto mais seu coração junto ao meu. Você está longe, nessa vida que construímos juntas, você segue sozinha. E eu fiquei. Estou tentando erguer algo do nada, estou tentando voltar e me encontrar em algum lugar nesse espaço de tempo tão grande em que eu fui só sua e nada minha. Estou tentando ser eu. É como se uma porta tivesse se aberto e eu fosse obrigada a atravessá-la. Tudo é novo e assustador. Mas tudo bem... Eu vou encontrar um outro lugar, certo? Eu vou construir uma vida em outro lugar, talvez em algum lugar mais alto, longe da superfície e do chão, onde se encontra a maioria das armadilhas. É, um lugar mais seguro. E eu farei tudo sozinha, tijolo por tijolo... Sozinha. E quando tudo estiver pronto, quando esse lugar for seguro e confortável o bastante, então talvez eu deixe alguém entrar. E fazer parte da minha vida. Minha, não sua, nem de ninguém. Minha.

domingo, 21 de abril de 2013

Na beira do precipício



Às vezes eu só quero dançar, como se ninguém estivesse olhando. Às vezes tudo o que eu quero fazer é gritar, enquanto a música toca alto de mais. Às vezes eu me sinto bem em meio às pessoas, mesmo com a minha solidão crônica. E às vezes não. Às vezes as luzes piscantes marcam o compasso do meu desespero, às vezes o silêncio é necessário para minha sanidade, e às vezes simplesmente há pessoas de mais olhando para se dançar. A vida desaba... E tudo o que há de ruim no mundo se ilumina em sua mente, as lembranças voltam, a dor volta, as lágrimas se perdem. Eu só queria poder fechar os olhos e encontrar um pouco de paz, eu só queria que a alegria durasse e que não existisse um outro lado pronto para pesar. Quando isso vai acabar? Sempre que eu penso que estou conseguindo me livrar dessas lembranças, elas voltam, elas sempre voltam. Eu não posso simplesmente enterrá-las? Para sempre, o mais fundo possível, por favor. Eu temo as pessoas e me escondo atrás da minha timidez, visto a máscara de "antissocial", quieta. Me isolo. Tenho medo, construo muros a minha volta cada vez mais altos. Vocês precisam entender, eu simplesmente não posso deixar mais ninguém me machucar. Eu não consigo mais... São tantas pessoas, tantas situações, me esquivo naturalmente. Estou com tanto medo de dar um passo a frente. Como eu posso saber? Quem vai me garantir? Quem vai estar lá quando eu cair?

A vida... Às vezes eu a amo tanto, como quando eu coloco a cabeça para fora do carro de madrugada e o rádio toca a música perfeita, ou quando rio com meus amigos, quando meu gato para na minha frente e só senta no meu colo depois que eu toco sua cabeça, quando alguém toca uma música para mim, quando eu beijo a mulher que eu (ainda) amo. Essas coisas me fazem sentir que o mundo talvez possa ser um lugar bom, que talvez exista um lugar para mim, que as coisas no fim se acertam, porque não importa o que aconteça, eu sempre vou poder colocar minha cabeça para fora do carro de madrugada, certo? Acho que sim... Mas há tantas coisas que eu não posso ter e tantas outras coisas que tornam o mundo tão obscuro. Eu não posso ter a mulher que eu amo, a música que toca quase nunca é a perfeita, pessoas protestam pelo mundo inteiro contra meus direitos, minha família nunca vai me entender ou me aceitar, meu medo afasta as pessoas por mais que no fundo eu grite para elas não irem embora, não tenho muito controle sobre meu corpo ou mente, me sinto quebrada e toda vez que o dia começa ou acaba, há uma porrada de remédios me esperando, meus braços são feios, as pessoas me olham feio. Coisas ruins e mais coisas ruins.

Às vezes eu odeio a vida. Estou parada na beira de um precipício, não era assim no começo? E eu não quero atravessá-lo, há muito tempo eu desisti de atravessá-lo. Eu só quero pular, porque o vento da queda me lembra o vento da janela do carro. Eu posso ficar nesse carro para sempre?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um lugar para minhas lágrimas



Dói. Eu não sei o que fazer. Tento controlar as lágrimas, sou obrigada a me encolher cada vez mais porque o buraco que se abre em meu peito é simplesmente grande de mais. Eu vou sumir. É o que eu sinto, eu vou morrer, desaparecer... Quem me dera se fosse só isso. Dói tanto que parece que alguém está abrindo meu peito com uma furadeira, não, não estou exagerando. Quero chorar mas não há lugar para as minhas lágrimas em lugar algum. Tento conversar, tento fazer com que alguma alma me entenda, tento ter amigos... Não colegas, não pessoas que eu tenho medo de desaparecerem a qualquer momento, mas gente que é capaz de diminuir minha dor sempre que eu precisar. Isso existe? Dói... As pessoas me dizem que eu estou indo bem, que eu estou melhor, que eu cresci... Mas no fundo eu sempre volto a me sentir só uma garotinha patética. Um pouco sozinha de mais, um pouco desapegada de mais, um pouco de raiva e ódio acumulado. Eu simplesmente não sei o que fazer. Eu estou tentando com todas as minhas armas seguir em frente, mas não importa o que eu faça meus pés escorregam na lama e eu nunca saiu do lugar. Sorrio para as pessoas a minha volta enquanto a dor me mata. Obrigada pelos elogios, obrigada por achar que eu estou melhor, obrigada por achar que eu sou capaz, que eu vou sair dessa... Obrigada por esperarem tanto de mim.

Por que todo mundo espera tanto de mim? Minhas mãos tremem muito enquanto eu tento ser o mais normal possível, e ser aceita, e ser amada... Tudo isso é muito importante para mim, extremamente importante. Mas não importa muito o que eu faça, ou o quanto eu me esforce, eu continuo enxergando o mundo de um ângulo um pouco estranho, como se nunca estivesse realmente fazendo parte de algo. Sou uma telespectadora de mim mesma, da minha vida, dos passos que eu nunca dou. As poucas coisas que fazem eu me sentir realmente viva mesmo quando estou sozinha são me cortar ou me machucar de alguma forma e escrever, nessa ordem de eficiência. Quando a dor é forte de mais e eu sou pega desprevenida, dificilmente eu vou conseguir ficar sentada na minha cadeira escrevendo. O sofrimento é dilacerante, incapacitante, extremamente destrutivo, acredito que só pessoas de alguma forma perturbadas conseguem sentir algo parecido, porque se pessoas normais sentissem isso elas também não suportariam continuar suas vidas normalmente. É impossível. Então normalmente eu acabo fazendo algo de ruim, não consigo evitar... E a missão de parecer sempre o mais normal possível vai por água abaixo com tantas cicatrizes, ataduras e sangue para esconder ou justificar.

Eu só gostaria de não ter que ser eu, nem se fosse só por um dia, e não ter que viver minha vida. Eu gostaria de férias de mim mesma. Eu gostaria que minhas mãos não tremessem quando eu estivesse me esforçando muito para parecer normal, e bem, e controlada. Gostaria de não entrar em pânico quando vejo que não está dando certo, porque isso só piora as coisas. Gostaria de não sentir vontade de sair correndo das pessoas, só por medo do que elas podem falar, ou fazer, ou perguntar, ou pensar. Gostaria de me sentir bem dentro do meu próprio corpo, gostaria que esse monstro não existisse, gostaria de não olhar mais desconfiada para o mundo, sempre na defensiva como se todos estivesse contra mim. Gostaria que essa dor sumisse... E que as pessoas parassem de desaparecer. Gostaria de ter uma mão que eu pudesse segurar, ou um ombro no qual eu pudesse me apoiar, e nunca ter vergonha por precisar disso, ou por ser um pouquinho diferente das outras pessoas, ou por ter meus braços mutilados, ou por tomar tantos remédios... É, eu gostaria de nunca ter vergonha de mim mesma, porque está tudo bem, não está? Em ser assim. É o que eu sempre prego para os outros, que não tem nada de errado com suas diferenças, e no entanto eu me julgo sempre tão duramente, como se eu não fosse merecedora de amor e compreensão como qualquer outra pessoa. Por que eu faço isso? Eu sou só mais uma no meio de uma multidão e o que eu preciso aprender é que eu não preciso me esforçar para estar ali, ninguém precisa.

Bondade



A bondade das pessoas às vezes me surpreende, muito mais do que a maldade que me decepciona. Acho que eu tenho uma expectativa muito ruim sobre as pessoas de modo geral. Estou sempre esperando o pior. Tirando uma pessoa, que eu espero tanto, que ela simplesmente não tinha como não me decepcionar um dia atrás do outro. Sou um pouco extremista de mais em relação ao mundo, hora amo de toda a minha alma, hora odeio beirando ao absurdo. E é ai que a bondade das pessoas às vezes me surpreende... As pessoas sempre desejam bem para quem elas amam, ou pelo menos é o que todo mundo diz. Eu não. Não é sempre que eu desejo o bem para quem eu amo. Não. Eu nunca entendi o "você está feliz e isso me faz feliz", não, o fato de você estar feliz não me faz feliz, não vou mentir, não tenho porque mentir. O fato do mundo inteiro estar sempre feliz me irrita e faz com que eu me contorça de inveja. Eu daria tudo no mundo para não ser eu, eu daria tudo no mundo para poder sentir essa felicidade ou satisfação que seja, só em ver outra pessoa feliz enquanto ela te fode e vai embora como se você fosse um saco de lixo qualquer. Eu não gosto que pessoas estraguem minha vida já muito precária, eu realmente não gosto. Não consigo entender as pessoas. Será que todas elas se acham tão boas assim? Sério mesmo?

O monstro que eu tenho dentro do meu peito, também existe no seu. As coisas horríveis que eu escuto em minha mente, você também escuta e as ignora sistematicamente. As coisas horríveis que eu já fiz e faço... Você também faria se não fosse medroso de mais para tal. Eu sempre me sinto muito desencaixada e incompreendida, mas no fundo somos todos iguais, sei que somos. E eu sei. Eu sei que você não fica feliz vendo alguém passar por cima de você, por mais que você "ame" essa pessoa. Eu sei também que você já desejou mal para alguém e isso foi tão assustador que foi reprimido na hora, talvez até antes de você ter percebido. Então parem de se fazer de santo, isso me irrita. Pare de dizer que faz as coisas pensando no bem estar das outras pessoas. É mentira, você sempre ganha algo muito bom em troca ao fazer coisas que as pessoas julgam como "justas" ou "caridosas" enfim. Você ganha uma coisa valiosíssima, que é o direito de ter a imagem de santo, de bom, de valoroso, melhor do que o resto do mundo, meros mortais cheios de defeitos.

Eu sou mais o inferno. Onde ao menos a pessoas se enxergam como realmente são. Eu sou mais os anjos caídos, questionadores, inquietos, nada conformados. As pessoas certinhas de mais sempre me soam muito erradas... Eu já fui certinha de mais, dito e feito, não conheço muitas pessoas piores do que eu e meu monstrinho.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Monstros e vozes sem rostos



Sinto como se estivesse correndo no escuro. Atrás de mim monstros e vozes sem rostos. Não sei para onde estou indo, não enxergo nada a frente, mas eu preciso continuar, não posso parar. Sinto a presença deles, cada vez mais perto. Eles vão me destruir, mais do que eu já estou. Levo minhas mãos aos meus ouvidos. Por favor, não me deixe ouvi-los, por favor. Por favor, não me deixe vê-los. Eles dizem que monstros não existem, mas se eles estivessem em minha pele eles também não ousariam desacreditar. Fecho meus olhos e tampo meus ouvidos, me encolho em meu canto e rezo não sei bem para quem. Por favor faça-me entender o que é real e o que não é. Por favor, conserte meu cérebro, por favor faça os monstros irem embora. Às vezes tenho tanto medo de abrir os olhos e encontrar o mundo todo errado. É tudo tão incerto para mim, como posso saber o que me espera a cada piscada? Tenho medo de sair da realidade e nunca mais encontrar o caminho de volta. Como eu posso saber qual é o caminho? Como posso saber se monstros existem ou não? Como posso saber se o que eu enxergo é verdade ou é só uma brincadeira inventada pelos meus olhos? Como eu posso saber? Não há chão sobre meus pés, não há certeza em minha mente, não há nada que possa iluminar meus passos em meio a toda essa escuridão.

Quero a luz mas tenho medo que ela me revelará, será a realidade pior do que meu "sonho" ou pesadelo constante? Tenho medo de olhar em frente, o que me espera no futuro? Mais monstros? Mais dor? Mais escuridão e insanidade? Talvez a cegueira seja uma bênção. Talvez tudo tenha o seu porquê. Continuo correndo sem destino, fugindo do que é meu e eu tanto rejeito. O futuro me assusta terrivelmente, não gosto nem um pouco de pensar nele. Às vezes eu só queria que as pessoas me deixassem em paz, que eu pudesse me trancar para sempre em um banheiro e me cortar até meu próprio monstro ficar satisfeito. Meu monstro nunca está satisfeito. Às vezes eu só queria atingir uma veia, meio sem querer querendo, não me julguem, como eu ia saber que ali tinha uma veia? E morrer. Acidente. Não me odeiem. Nada planejado, não. É o único jeito que eu consigo me ver sem todo esse sofrimento, sem correr o risco de me ver obrigada a enfrentar tantas coisas ruins diariamente. Vocês entendem? Acho que não... Eu só queria... Poder parar de correr. Ter tempo para poder enxugar essas lágrimas. Olhar para meu reflexo no espelho e conseguir encontrar algo de mim mesma ali. Tenho tanto medo, tanto medo.

Os gritos estão sempre em meus ouvidos e eu não quero fazer parte deles. Não quero. Por favor, não me deixem ficar mal, por favor. Por favor não me prendam de novo naquela cama. Como eu posso simplesmente esquecer? Só consigo lembrar de como meu corpo tremia e tudo estava tão errado. Por favor, não façam isso comigo de novo. Não consigo esquecer, não consigo. E a cada passo que eu dou, tentando fugir do que eu não posso escapar, mais as lágrimas me cegam, como se tudo já não fosse escuro o bastante. Eu preciso parar de pensar nessas coisas, mas eu não consigo. Acho que estou um pouco paranoica de mais... É só que eu não sei como parar tudo isso, não sei como me consertar, não sei nada. E tenho medo do que me espera amanhã, tenho medo do que vai acontecer da próxima vez que eu cair, e eu sei que vou cair. Cedo ou tarde, sei que vou.

Eu mereço algo melhor



Eu mereço algo melhor. É o que o mundo me diz. Eu sorriu e abaixo a cabeça. Às vezes me surpreendo com o quanto as pessoas não me conhecem. Ou será que sou eu que não me conheço? A vida é estranha e eu deveria começar a aprender com meus erros. Palavras duras, palavras de carinho, palavras que vivem me dando socos na cara e me acordando para a realidade. Mas eu fecho os olhos de novo, eu sempre fecho os olhos. Eu cometeria o mesmo erro. Espero um dia ser forte o bastante para não falar isso, mas, por enquanto, eu cometeria o mesmo erro. Valeu a pena? Não sei, quem sabe? Pelo menos tive um gostinho do que significa o amor. Foram poucas as pessoas com as quais eu contruí sentimentos tão fortes. Às vezes penso que é o fim do mundo, às vezes vivo o fim do mundo... Mas sempre passa. O fim do mundo sempre acaba e sempre há um "depois". Eu vou ficar bem, também é o que todo mundo diz. Eu vou ficar bem. É uma pena que eu sempre volte a chorar.

Eu sempre choro nos lugares errados, choro quando estou sozinha e economizo meus sorrisos para quem eu amo. Assim ninguém vê minha dor, assim ninguém se sente sobrecarregado com ela. Não gosto de dar trabalho, tenho medo de dar trabalho... Tenho medo de um dia não conseguir mais me levantar e caminhar sozinha, tenho medo de um dia depender o tempo todo de alguma pessoa. Sempre me lembro dos dias, que pareceram séculos, em que eu passei internada na clínica. Sempre lembro de como não podia fazer nada sozinha e estava 100% do tempo sendo vigiada. Era uma vida estranha... Eu tinha a sensação que eles tinham me roubado absolutamente tudo. Na noite em que eles me amarraram em uma cama para que eu não me machucasse... Não me restava mais nada, absolutamente nada. Era só eu comigo mesma, lutando contra o universo, contra as amarras em seus braços e pernas, lutando para existir, para merecer de volta meu lugar na sociedade. São coisas que mudam a gente. São momentos que nos transformam para sempre.

Eu reconquistei meu lugar na sociedade. Pouco a pouco, tudo o que foi arrancado de mim, eu fui ganhando de volta. Até o dia em que eu saí daqueles muros e a liberdade sorriu para mim. Não há sensação melhor do que essa, sair por aqueles muros... Enquanto lá dentro todos os outros pacientes e equipe de enfermeiros e médicos acenavam para mim, me desejando toda a sorte do mundo. Eu espero nunca voltar. Eu espero continuar independente e livre para sempre. É engraçado como eu me recusei a perder minha independência frente ao mundo inteiro e abro mão dela tão facilmente quando se fala de amor. Não é estranho?

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Palavras confusas



Palavras confusas. Quadros deslizam pelos meus olhos e nada parece bom ou bonito o bastante. Às vezes eu não estou sozinha mas a escuridão me invalida. Nada bom o bastante. Não sou boa o bastante. Nunca vou ser boa o bastante. Do lado de fora eles falam de mim. Odeio quando falam como se eu não estivesse ouvindo. Eu estou sempre ouvindo, sempre um pouco mais do que realmente está tocando no rádio. Barulhos, sei o que quero dizer mas não entendo quando escuto minha própria voz. Onde eu fui parar? As coisas são estranhas às vezes. Às vezes eu tenho que balançar meu braço com força muitas vezes até sentir que ele continua fazendo parte do meu corpo, não é estranho? Às vezes balanço a cabeça também mas quase nunca funciona para me trazer de volta. O que poderia me trazer de volta? De volta para um universo que eu nunca conheci, que eles dizem que as pessoas podem se integrar, que há chance, que há espaço. Não há espaço. Não há espaço no mundo para pessoas como nós, podemos cavar esse espaço com unhas e dentes se tivermos força e sorte, mas ele nunca existe inicialmente. As pessoas geralmente não te amam pelo que você realmente é, elas te amam pela ideia que elas têm de você. Só uma ideia. Você também tem uma ideia de você mesmo, que nem sempre é verdadeira. Você pode ser muito pior do que imagina.

Você pode ser como eu, que esquece completamente as coisas ruins que faz, reprimindo-as por não saber lidar com seu lado cruel, colocando a culpa em um monstro que no fundo no fundo nunca existiu, apesar de você afirmar o oposto com toda a certeza. É, você pode ser muito mais cruel do que imagina. Tanto faz. As palavras continuam confusas. Às vezes acho melhor ficar com a boca fechada porque odeio não conseguir me expressar direito. Odeio. Meu corpo inteiro treme... Quero falar. Quero falar, quero ser ouvida, quero que me entendam. Lá fora o mundo roda e ninguém se importa. Quanto mais a gente se cala, mais o mundo perde o interesse em nós. Eu não quero me calar, mas também não quero abrir a boca e falhar. Eu sei que se não tentarmos nunca conseguiremos, sei de tudo isso. A gente tenta... Eu costumava ser boa nessas coisas, eu costumava me orgulhar por conseguir falar bem, até mesmo na frente de um monte de gente. Mas algumas coisas se vão... Não entendo muito bem porque, mas eu sinto que perdi muita coisa. Muita coisa que uma velha Sabrina era e agora não é mais. Assim como ganhei muita coisa também, quase nunca boas.

Eu me sinto empobrecendo. Como se estivesse despedaçada e o buraco negro no meu peito estivesse sugando os pedacinhos. Aos poucos sinto tudo o que eu tenho como certo se desintegrando. E não sei onde isso vai parar. Eles falam de mim como se eu não estivesse lá, e eu quase não estou lá, mas eu ainda escuto, eu ainda entendo trechos que desaparecem rapidamente. Eu quase não estou lá, mas eu entendo. E isso me assusta. O que vai acontecer comigo? O que está acontecendo comigo?

Esquizofrenia?



Ontem me desesperei um pouco. Imagino que seja normal. "Normal". Minha vida anda um pouco estranha, um pouco sem sentido. Tenho medo do futuro, por vários motivos eu tenho medo do futuro. Quando olho para minhas mãos e não as reconheço, quando escuto minha voz e não a reconheço, quando minha visão se torna estranha e tantas outras coisas... Eu tenho medo. Tenho medo que essa viagem seja longa de mais, que essa luta ainda vá demorar muito tempo. Ou para sempre, não sei. Tenho medo do que me espera na esquina. Principalmente por causa desse diagnóstico novo e terrível. Esquizofrênica eles disseram. Esquizofrênica? Por que? Eu entendo e enxergo meus sintomas psicóticos, mas a esquizofrenia é mais do que surtos psicóticos. Eu penso nesse diagnóstico e eu o vejo como uma sentença. A esquizofrenia vai piorando com o tempo. Eu já conheci algumas pessoas esquizofrênicas e eu sei o quão ruim as coisas podem ficar. Será que um dia eu também acabarei daquele jeito? Eu já cheguei tão perto de me perder para sempre... Tão perto. Mas por um milagre eu voltei, e agora estou bem aqui, lúcida, controlada na medida do possível.

Às vezes eu penso em parar de tomar meus remédios para saber quem eu sou de verdade. Há quanto tempo eu não sou eu? Quem eu sou? Tenho lembranças despedaçadas de diversas "Sabrinas", tão diferentes... Não sei qual é a verdadeira, não sei como eu sou. Onde eu estaria agora sem todos esses remédios? Seguindo meu médico eu estaria morta. Ele disse isso para meus pais quando eles duvidaram que o tratamento estava dando certo. Eu quase sorri, afinal, talvez ele me entenda e entenda minha situação mais do que eu imaginava. Chegar até aqui foi extremamente difícil, me pergunto onde arrumarei forças para continuar lutando pelo resto da minha vida. Também não consigo deixa de pensar que os remédios vão parar de funcionar de novo, isso sempre acontece... Eu nunca vi alguém tão resistente a medicamentos como eu. Eles vão parar de funcionar, e eu já tomo as doses máximas. Isso é preocupante. Preciso parar de ser "pessimista", que na minha cabeça significa simplesmente ser realista. De qualquer jeito tenho medo. Me sinto absurdamente sozinha nessa minha luta, por mais que eu tenha um monte de amigos a minha volta... Eu quase nunca conto para ninguém pessoalmente as coisas pelas quais eu passo. O único lugar que eu falo qualquer coisa sobre meus problemas é aqui.

Tenho medo de que as pessoas se afastem. Tenho medo de que minha realidade seja pesada de mais para alguém aguentar. Então eu a escondo, sou muito boa nisso até onde eu sei. Você poderia me achar completamente normal se não fosse pelas cicatrizes em meus braços. Eu poderia estar alucinando e ainda assim eu disfarçaria e tentaria ignorar as coisas dançando ao meu redor. Eu sempre fingi muito bem, que estava tudo bem, que eu era normal, que nada estava acontecendo. Eu gosto de mentir sobre isso, fazer as pessoas acreditarem que eu sou normal. Infelizmente minhas cicatrizes me denunciam... E sempre que eu vou conhecer uma pessoa nova eu tenho que pensar se tento esconder meus braços dela ou não. Sempre tenho medo da reação delas... Mas muitas pessoas já me surpreenderam, de um jeito muito positivo. Olhares de compreensão e nenhuma pergunta, só esse olhar. Gosto de pessoas que me entendem sem que eu tenha que dizer nada, até porque tenho muita dificuldade de falar sobre essas coisas, verbalmente. De qualquer jeito, seria legal entender um pouco mais sobre esquizofrenia... Tenho dificuldade para entender, é uma doença muito complexa. Eu só queria saber, caso eu realmente seja esquizofrênica, para me preparar para o futuro. Sabe? Estou cansada de falsos sonhos, falsas esperanças... Dói mais quando você é pego de surpresa pelas coisas ruins.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Desaparecendo



É meio estranho ter brancos de memória. É como se o filme em sua cabeça estivesse todo picotado e embaralhado, dou saltos no tempo e no espaço e vira e mexe tem alguém me contando algo que fiz e eu não fazia ideia que tinha feito. As coisas começam a se tornar cada vez menos reais com o tempo. Afinal, como eu vou saber o que fiz e o que não fiz se não consigo me lembrar das coisas? E em todo o tempo em que eu fico "apagada" o que que eu faço? Perde-se o controle, o ponto de referência, o contato com a realidade. Não existe nada mais incerto do que uma folha em branco e isso me assusta. Qualquer coisa poderia ser pintada nessa folha, eu poderia fazer qualquer coisa nessas lacunas na minha memória, eu poderia sentir qualquer coisa, eu poderia acreditar em qualquer coisa e falar qualquer coisa, não é assustador? E o mundo parece irreal, minha vida parece irreal, tento apalpar essa realidade, qualquer coisa que me dê segurança e não a impressão de estar desaparecendo como minhas memórias, mas ela me escapa pelos dedos. Não consigo sentir a vida, não consigo sentir que existo.

Meus problemas de fuga da realidade e ideias fantasiosas começam ai. Não consigo sentir que estou viva e então a realidade pode ser qualquer realidade. E qualquer coisa pode ser real, como meu monstro por exemplo. Meu monstro sempre é real para mim, mas há coisas relacionadas a ele que variam conforme o grau de percepção que eu tenho da realidade "certa". Por exemplo, em um dia onde eu estou mais confusa e assustada eu posso acreditar que se fechar os olhos meu monstro vai sair de dentro do meu corpo de algum jeito e me atacar, ou então eu posso simplesmente achar que ele vai surgir do nada ou que vai começar a controlar meu corpo contra a minha vontade. Eu também me amarro a ideias concluídas a partir de um raciocínio que para mim é racional mas na verdade é totalmente irracional. Essas ideias são bem difíceis de se livrar porque elas fazem muito sentido para mim. Como a ideia de que, em algum momento eu vou ver meu monstro, ele vai se materializar. Eu o sinto com tanta certeza aqui dentro que às vezes quando fecho os olhos, quase posso sentir sua respiração e presença ao meu lado. É assustador.

Me pergunto como posso saber se estou realmente vivendo o que estou vivendo, me pergunto se não estou só dormindo ou se o que estou vivendo agora amanhã já não estará mais em minha memória. Como eu posso saber? Como eu posso saber o que é certo para todo mundo e para mim é tão incerto? Eu estendo minhas mãos e tento alcançar o que não é palpável. A vida... Você consegue sentí-la? Às vezes eu queria passar um dia vendo a vida a partir dos olhos de outra pessoa, assim eu poderia entender como eles enxergam as coisas, como podem se sentir tão seguros frente a algo tão improvável. Eu só queria um pouquinho mais de segurança e certeza, o suficiente para convencer meu cérebro de que eu não estou desaparecendo. E sim que estou aqui e agora, de verdade, o tempo todo, e que eu não vou a lugar algum.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Meu presente para você



Eu quis te dar um presente. Meu último presente. Eu respirei fundo, como quem vai pular em uma piscina gelada, e me joguei de cara nessa vida incompleta. Estou me esforçando. Estou fazendo tudo o que posso. Você consegue enxergar? Você consegue entender? Meu presente é continuar viva. Eu estou tentando com todas as minhas forças, seguir em frente. Eu espero que dê certo, eu espero que meu presente dure, eu espero que você goste. É difícil, entenda, muito difícil. Há coisas que nos fazem mal, mas que nos dão tanto prazer que acabamos por relevar esses pequenos detalhes. A vida ao seu lado foi doce, não adianta mentir. Tão doce quanto eu nunca havia experimentado. E viciante, envolvente, daquelas que te cegam e você nem percebe. Eu gostava dela, eu amava ela. E assim era muito fácil ignorar o lado ruim, mas agora que eu não tenho mais a parte doce dessa vida... Tudo se tornou um pouco escuro de mais, entende? Estou sofrendo as consequências por ter me deixado levar, por ter me envolvido durante tanto tempo com essa confusão disfarçada de tantos sentimentos bons. E enquanto eu tento salvar seu presente, mil coisas me puxam para baixo e se colocam na minha frente. Eu estou fazendo tudo errado, não estou? Me desculpe, estou tentando, eu realmente estou tentando.

Eu respiro fundo e fecho os olhos, pedindo ao menos um minuto de descanso, mas eu não tenho um minuto. Meus monstros vêm me assombrar assim que meus olhos se fecham e a vida é pesada de mais quando eu os abro. Eu estou tentando, com todas as minhas armas, todos os dias, em absolutamente todos os minutos. E o mais triste é que eu nem consigo fazer você enxergar. Isso era para ser um presente, era para ser bonito, era para ser algo que tanto eu quanto você iriamos nos orgulhar. Se eu pudesse fazer isso, estaria tudo bem, de verdade, e eu conseguiria falar com você como falo com qualquer amigo, conseguiria olhar para você como olho para qualquer amigo, poderia suportar seu abraço como sendo só um abraço e mais nada. Mas as coisas não são assim, não é mesmo? Eu tenho medo de onde tudo isso vai parar, eu tenho muito medo. Gostaria que seu presente durasse, o tempo que você quisesse, mas temo não aguentar por muito tempo. As coisas são um pouco incertas de mais. Me desculpe. Me desculpe por não conseguir nem isso fazer direito. Para você tudo parece tão fácil, quando eu te olho assim de longe. Entenda, nem todos são assim. Eu realmente queria te dar algo especial... Eu realmente queria que você me visse bem logo, bem e independente, forte e feliz e tudo o mais, não seria ótimo? Eu estou tentando, juro que estou.

É meu último presente, minha despedida... Acenar para você, mesmo assim tão longe, e conseguir sorrir. Você ficaria feliz com isso, não ficaria? Eu quero muito te ver feliz, mas entenda por favor... Dói de um jeito um pouco insuportável de mais aqui dentro e às vezes eu sou obrigada a ser egoísta simplesmente porque não consigo aguentar mais. Me desculpe por isso também. Eu passei tempo de mais te colocando em primeiro lugar, tanto tempo que agora sinto como se tivesse me perdido para sempre. Agora eu preciso me encontrar, não sei onde, e me colocar a sua frente. Só que me colocar em primeiro lugar talvez seja um pouco perigoso de mais, ainda mais com esses pensamentos tão errados. Eu posso encarar tão facilmente a morte ou a dor como um caminho bom quando estou sozinha, é como se eu não existisse quando deixada sozinha. Ridículo não é? É assim que eu me sinto. Anulada, excluída, ausente. Só porque estou sozinha. Então, por enquanto, enquanto eu ainda tenho medo do que eu poderia fazer caso me colocasse em primeiro plano, eu me concentro em dar esse presente para você. Desculpe o mal acabamento ou o estado em que ele se encontra, eu vou melhorá-lo, estou fazendo de tudo para melhorá-lo.

Regras sociais



Existe um jeito certo para se pensar e existe um jeito certo para se agir. Nem todas as pessoas chegam a pensar sempre do jeito certo, mas a grande maioria delas sempre age do jeito que se tem que agir. Não é algo que as pessoas pensam a respeito, são regras sociais, e em tese todas as pessoas as conhecem e quem não as obedece é punido de algum jeito, quer seja pelo isolamento social, bullying ou até mesmo indo parar em cadeias e clínicas psiquiátricas. Eu entendo porque essas pessoas são rejeitadas, contidas e silenciadas... A sociedade depende de regras para existir, mas não deixa de ser triste. Eu sou uma pessoa com dificuldades sociais, existem milhões delas por aí, e você com certeza deve conhecer pelo menos uma. Por sorte eu tenho um batalhão de pessoas que me apoiam e me ensinam todos os dias como eu devo agir e pensar. Não é fácil, não é nada fácil. Mesmo quando minha psicóloga me diz claramente como eu tenho que agir e pensar em determinada situação, ainda assim eu continuo errando na prática. Mas existe muitas pessoas que não tem apoio nenhum, que continuam "errando", pensando de forma irracional e agindo de forma não assertiva. E elas não sabem que existe um jeito certo, não sabem como é o jeito certo, nem que a grande maioria das pessoas sabem isso naturalmente, nunca nada foi dito, as pessoas aprendem com a observação. Mas nem todas.

Tem gente que não nasce com essa habilidade parece, tem gente que se quebra no meio do caminho também, tem gente que enquanto cresce a vida simplesmente o ensina completamente de trás para frente e tudo o que é certo soa errado e tudo o que é errado soa certo. E o resto do mundo não entende. Eles nunca entendem. O diferente sempre é visto com receio e preconceito, isso é natural do ser humano. Infelizmente. É só estranho que com tudo tão moderno, ainda termos como regra comportamentos tão primitivos. Acho que eu sempre espero de mais das pessoas. Sempre me espanto ao notar o quão mesquinhas elas podem ser, me espanto ao descobrir o quão mesquinha eu mesma posso ser. Eu não entendo, mas talvez haja um bom motivo para as coisas serem como são. Eu só não consigo enxergar... Do mesmo jeito que não consigo enxergar o comportamento das pessoa a minha volta e tê-los como modelo, como quase todas as pessoas fazem tão naturalmente. Tampouco aqui na minha mente eu sigo a regra... Meus pensamentos são extremamente destrutivos para mim. Eu me considero uma pessoa racional porque é assim que eu sou em meus momentos de lucidez, mas sinto que os mesmos estão se tornando cada vez mais raros. E quando eu não estou lúcida, tudo pode se tornar verdadeiro para mim, até as ideias mais absurdas.

É duro não conseguir entender o raciocínio das pessoas a sua volta. E é duro ver que eles também não te entendem. É duro ver como ninguém entende seus comportamentos estranhos, cruéis ou esquivos. É duro ser excluído. Mas também é duro para as pessoas a sua volta suportarem algo que eles não estão acostumados, é duro se sentir incomodado e não poder fazer nada para impedir isso, é duro aceitar algo que talvez te ofenda. Eu entendo isso. É um problema que precisa ser trabalhado nos dois lados. E quando as pessoas conseguirem enxergar o outro lado como um igual e não como o estranho e uma multidão como, de certa forma, uma legião de semelhantes, talvez as regras primitivas, que a maioria das pessoas seguem, mudem para algo um pouco mais... Humano ou compreensivo. Sim, há um jeito certo para se fazer as coisas, para se pensar, para se agir e somos forçados a seguir essas regras caso não queiramos sofrer as consequências de não seguí-las. Mas no meio da sociedade, existem meia dúzias de pessoas que não conseguem seguir o que quer que seja, essas pessoas precisam ser compreendidas, porque assim que o mundo estender a mão, elas são segurá-la com toda a força que tiverem, e assim, finalmente poderão ser só mais um na multidão. Por que ninguém quer viver excluído, mas também, ninguém quer fazer parte de um grupo de pessoas tão cruéis a ponto de excluírem qualquer um, só por essa pessoa ser, de alguma forma, diferente.

domingo, 7 de abril de 2013

De mudança



As coisas mudam, quer você queira ou não. E no fim, na maioria das vezes, é quase tudo a mesma coisa. Sinto que estou seguindo em frente, um passo de cada vez, mas, às vezes, quando olho para os lados, tudo parece tão igual. Como se eu estivesse andando em uma esteira, milhões de km sem sair do lugar. E então? Estou pensando o que devo fazer, qual caminho devo seguir, quem eu quero ser e quem eu consigo ser, mais um gole de vinho ou cerveja, foda-se é o que eu tenho vontade de gritar. Eu só quero que minha vida flua, um pequeno rio independente, quero que as coisas caiam do céu pelo menos uma vez na vida, quero minha certeza cega de anos em que eu já fui muito mais infantil e simples. As coisas mudaram... Eu costumo odiar mudanças. Eu gosto do que é certo e constante, já que meu interior é tudo menos certo e constante. Mas eu me meti com a pessoa errada. É sempre assim, não é? Eu insisti tanto, me esforcei tanto para dar certo, movi o mundo inteiro, coloquei isso como centro do meu universo... Para que? Eu preciso aprender a ser menos burra e teimosa.

Bom, o que mais eu poderia fazer? Quando a gente quer alguma coisa a gente luta com unhas e dentes por ela. A gente acredita, a gente tenta, perdoa. Dessa vez vai dar certo, tenho certeza. Eu nunca mais vou aceitar. Essa é a última vez. Dá próxima vez não vou deixar passar em branco, etc, etc e etc. Bobagens que a gente pensa e faz quando estamos cegos por algo. Mas agora as coisas mudaram, cedo ou tarde, elas sempre mudam. E eu me pergunto como sair dessa armadilha que só me faz ficar andando no mesmo lugar. O tempo todo no mesmo lugar. Eu quero avançar e esquecer, superar, me tornar cada vez mais forte. Eu não sou nada forte, sou patética, repetindo sempre os mesmos erros, dia após dia. Um amigo disse que eu não aprendo. Ele tem razão. E não é só com isso que eu não aprendo. Minha psicóloga está sempre me ensinando como sobreviver ou me comportar nas situações em que eu tenho dificuldade para lidar, ela precisa sempre repetir milhões de vezes até eu aprender. E mesmo quando supostamente aprendo, a qualquer momento eu posso dar um passo para trás e esquecer tudo.

Essa minha dificuldade é cansativa (que dificuldade não é afinal?). Eu trabalho durante meses em algo e esse algo pode desaparecer a qualquer instante. Toda vez que há um progresso, pode ter certeza que um dia terá um regresso. Pelo menos comigo é assim. Principalmente agora com essas mudanças, tudo está muito mais frágil. Sinto como se pudesse quebrar a qualquer instante. A vida está toda estranha, entende? Falta algo, como se tivessem tirado a pilastra principal que sustentava um prédio ou algo do tipo. Tudo está meio bambo e incerto. Tento olhar para o futuro e me ver seguindo em frente, tento minha vida de volta, mas não consigo. Não enxergo nada, só essa maldita escuridão. Eu poderia morrer, por que não? Não entendo porque estou vivendo... Me arrasto todo dia para sair da cama e nem sei porque. Faço tudo meio desligada, meio ausente, meio sem querer. É claro que ainda tenho momentos ótimos, mas eles sempre passam... E a dor volta, ela sempre volta, não importa o quão bom o dia tenha sido. Parece que nada é bom o bastante. Desde quando eu me tornei tão exigente?

Sobre deus e religiões




Minha família é muito religiosa e eu passei anos tentando entender essa coisa que eles chamam de "deus". Mas eu só consegui pensar com mais liberdade agora que me livrei da religião, antes eu tinha a obrigação de me sentir culpada por tentar entender, afinal "deus vai além da compreensão humana" e nós "não devemos questioná-lo". De qualquer jeito, agora, enfim livre, passei a pensar. Na verdade passei a pensar um pouco antes de largar para sempre esse negocio de religião. Deus... Que carinha confuso. Uma hora mata cidades e povos inteiros e na outra prega o amor e o suposto perdão (que até hoje eu nunca vi). Deus se diz bom mas matou na história da Bíblia inteira muito mais do que o próprio diabo. Deus mata, deus destrói, deus odeia, deus segrega, deus tem inveja, ciumes, raiva... Deus é humano. Foi a única conclusão que eu consegui chegar, nada consegue ser mais incongruente, só o ser humano mesmo. Ah sim, e não podemos esquecer do melhor: "na verdade ele faz tudo isso porque nos ama". Claro, faz todo o sentido do mundo. Eu tenho um filho ai na escolinha dele eu simplesmente MATO todos os amiguinhos dele porque eles não concordaram com o que eu falei ou whatever. E não contente em fazer essas coisas deus ainda manda todo mundo pro inferno, quero dizer, ele é DEUS, ele criou tudo, porque diabos ele permitiu a criação do inferno?? Isso é muito sádico, fazer as pessoas sofrerem e queimarem por toda a eternidade, eu recomendaria terapia, sério.

Eu sempre pensei que deus devesse ser bom, eu sempre pensei que deus fosse sinônimo de amor, aquele amor puro que não espera nada em troca. Não é assim que deveriam ser todos os amores? Não... Deus não precisa de orações, deus não precisa de sacrifícios, deus não quer seu sangue derramado, o suor da sua testa ou o que quer que seja. Para mim, se deus existe, ele deve ser só um cara velhinho lá no céu, sorrindo para todos nós, independente de qualquer nacionalidade, cor, sexo, orientação sexual, religião, enfim... Nós somos todos humanos e todos nós merecemos ser amados pelo menos por uma pessoa no mundo. Muito utópico? Infantil? Talvez. Eu não ligo. É como as coisas deveriam ser. Quando eu era pequena eu costumava chorar tanto pelas pessoas que eu achava que iriam para o inferno simplesmente porque não eram da religião dos meus pais. Eu costumava perguntar para deus... Como ele podia? Como podia castigar desse jeito as pessoas? Ninguém merece sofrer por toda uma eternidade, ninguém. As pessoas falam de assassinos, ladrões, estupradores... Nem eles. Nem para eles eu conseguiria dar tamanho castigo. As pessoas más na maioria das vezes tem um motivo para tal, as pessoas carregam suas histórias, muitas vezes muito trágicas. Não se pode julgar ou condenar uma pessoa sem antes conhecer o seu passado, você não sabe o que a levou a ser a sim, você nunca sabe.

Eu chorava porque queria salvar o mundo das mãos desse deus tão cruel. Mas eu era só uma garota e estava completamente sozinha. Na minha igreja as pessoas davam glória quando nos diziam tudo o que ganharíamos por estarmos servindo a deus e eu chorava porque achava tudo tão injusto. Por que eu receberia tudo isso enquanto o resto do mundo inteiro iria queimar? Como eu poderia aceitar ir para o céu e abandonar todos os meus amigos que eu amava tanto? Nem eu merecia ganhar coisa alguma e nem eles mereciam deixar de ganhar. Minha cabeça parecia que ia explodir. Doía pisar na igreja e ouvir todas essas coisas, doía de verdade. Não conseguia entender como as pessoas poderiam ser tão egoístas e más, elas ficavam felizes quando descreviam o inferno que o resto do mundo ia viver! Como? Eu nunca entendi. Não, deus não pode fazer isso, simplesmente não pode. Abandonei essa maldita história de religiões. Não consigo aceitar qualquer tipo de violência, mesmo contra as pessoas que já me fizeram tanto mal... Eu posso ter um acesso de raiva, sim. Mas chegar a fazer tanto mal, nunca. Não consigo. E não entendo como alguém pode conseguir.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A corda bamba de qualquer relacionamento



Eu prefiro não pensar. Está tudo bem, está tudo bem. As coisas vão dar certo, certo? O mundo vai parar de se desfazer em minhas mãos e amanhã tudo estará do jeito que sempre foi. Fecho os olhos para os sinais, para as pistas que me dizem exatamente o contrário. Eu estou tão sozinha, mas quem liga? Todos os dias, dia após dia, sou uma sobrevivente, mas quem liga? No fim estou sempre falando sozinha, não é? Sempre, sempre sozinha. Onde está você e suas promessas vazias? Não importa. Importa... Importa tanto que só o fato de respirar longe de tudo que eu amo, dói, dói um pouco além do que eu consigo suportar. Não, não quero pensar nisso. Fecho os olhos com força e prefiro me encontrar com meu monstro aqui e agora do que com todas essas verdades afiadas. Por que isso sempre acontece? Como vou aguentar, como vou continuar aguentando? As mentiras têm perna curta, elas não vão durar... Eu sei disso, todo mundo sabe. As pessoas me olham desconfiadas, todo mundo sabe que você não está bem, só você que continua fingindo acreditar nisso. Mentiras e mais mentiras. Estou bem, estou bem, estou bem, repito para mim mesma de olhos fechados. O mundo desmoronando ao meu redor. Nenhuma alma ao lado para segurar minha mão. Vai ficar tudo bem.

Eu te olho de longe e sinto tanta coisa que nem sei explicar. Sua vida continua e está tudo ótimo, certo? Eu queria ser você, eu queria ser feliz, eu queria não me importar, poder fechar a porta para esse inferno que eu sou e pronto, ficar livre para sempre disso tudo. Não seria maravilhoso? Mas vai ficar tudo bem... É o que todos dizem. É o que eu quero acreditar. Eu decidi me esforçar, decidi lutar mais um pouco, mas para que mesmo? Sempre esqueço. Quase nada importa, talvez as coisas não estejam tão bem assim, não é mesmo? Me sinto perdida, o que devo fazer? Para onde ir? Eu só quero fugir dessa dor toda que insiste em permanecer, eu só quero não pensar em todas essas coisas ruins... Eu quero levantar amanhã e sorrir, porque faz tanto tempo que não faço isso, faz tanto tempo que a vida perdeu seu brilho e eu não me sinto mais simplesmente feliz. Eu quero de volta... Quero de volta minha vontade de viver, quero de volta meu sorriso, sabe, ele não é exclusivo seu. Quero de volta as risadas, a alegria palpitante aqui dentro, a energia e vontade de mover o mundo para ficar ao seu lado. Quero de volta. Quero de volta tudo o que eu sou, isso simplesmente não é justo. Eu não sou sua. Não sou, não sou e não sou. Nunca fui. E no entanto você me roubou de alguma forma, tão injusto.

Tudo bem se as coisas forem diferentes, tudo bem... Eu só quero minha vida de volta, a Sabrina de volta, a Sabrina que você amou, não essa Sabrina. Entende? Como posso gostar de mim mesma se o melhor de mim se foi junto com você? Isso deveria ser proibido... As pessoas de se enganarem desse jeito, de serem tão felizes em cima de uma corda bamba. Por que um dia tudo acaba e então? O que você vai fazer? Não vale a pena, não, não vale. Eu costumava acreditar em tanta coisa... Como pude ser tão burra? Eu costumava sorrir e me sentir preenchida, a vida costumava fazer sentido e o futuro... Havia esperança quando eu olhava para o futuro. Tudo porque você estava na minha vida, não é ridículo? Quem é você? Onde conseguiu tanto poder? Isso é ridículo. Só uma garota... como tantas outras... E isso acontece o tempo todo, pessoas se apaixonando, pessoas se relacionando como se essa corda bamba fosse um corredor largo e seguro. Não é... Não é. Alguém deveria avisá-las.

Sem controle



Eu perdi o controle. Em algum momento eu o perdi e simplesmente não tinha percebido até agora. Venho feito as coisas como um robô, viciada em certos comportamentos e na repetição. Dia após dia, a mesma coisa. Agora eu paro por um instante e me pergunto o que diabos eu estou fazendo. Por que minha mente anda tão desconectada de meu corpo? Meus pés continuam me levando pelos mesmos caminhos, todos os dias. Saio todos os intervalos e fumo, mesmo sem vontade. Compro algo para beber mesmo sem sede, de noite não durmo mais do que duas horas seguidas e todas as vezes que acordo durante a noite, meus pés me levam para a cozinha, onde necessariamente eu vou comer ou beber alguma coisa, mesmo sem vontade. Vou para minha consulta com a psicóloga com pelo menos umas duas horas de antecedência. Tomo sempre meio copo de café. Conto meus cortes e quantas vezes eu lavo a mão, tenho todas essas regras claras. Eu sempre sento no mesmo lugar, sempre faço as mesmas coisas do mesmo jeito. Sempre.

Agora eu paro e me observo por alguns instantes. Sinto como se minha vida e meu corpo tivessem sido arrancados de mim. Sou só uma mera observadora agora. Eu quero minha vida de volta, não entendo porque faço isso, porque continuo fazendo as coisas quando não tenho vontade e porque eu tenho que criar e seguir tantas regras. Não consigo entender. Estou cansada de ficar só observando enquanto meu corpo age sozinho ou é comandado pelo meu monstro, quero ter o poder de dizer não a mim mesma. Quero esse direito. Como posso dizer não para as outras pessoas se não consigo fazer isso comigo mesma? Estabelecer limites, se respeitar, todas essas coisas são estranhas para mim. Eu sou meu próprio inimigo, meu próprio monstro e carrasco. É um pouco absurdo, eu acho. Mas é assim que as coisas são. Eu preciso aprender que a Sabrina também é uma pessoa, que merece carinho e perdão como qualquer outra, que erra como qualquer outra, que tem defeitos como qualquer outra. É mais difícil do que parece, aprender a ter respeito próprio, estabelecer limites e perdoar os erros e defeitos.

Por enquanto eu me contentaria com um pouco mais de controle. Só o suficiente para eu não me sentir excluída da minha própria vida. Acho que eu ando um pouco conformada de mais, meus sintomas, continuo prestando atenção neles mas não sinto mais vontade nenhuma de falar sobre eles com meu médico. Eu só queria poder sentar naquela cadeira e dizer que tudo está bem, acho que nunca fiz isso. Sempre tem algo acontecendo, enquanto alguns sintomas melhoram, outros pioram, é sempre assim. Não consigo nunca o maldito equilíbrio, mas será que alguém consegue? Talvez eu só esteja exigindo de mais de mim mesma, como sempre. Talvez esteja tudo bem em ter alguns sintomas desde que eles não me prejudiquem de mais. Ninguém é perfeito.